Alzheimer e a perda da alma
Há muitos anos tive o grande prazer de ter o convívio com um homem brilhante, espirituoso e ótimo caráter na figura do pai de uma querida amiga. Lembro bem dele e de sua esposa, sempre muito afetuosos com todos os jovens que frequentavam a casa, sendo muito condescendentes com as angústias e ansiedades que expressávamos em conversas. Este senhor tinha uma característica muito interessante. Dono de uma inteligência aguçada somada a uma ironia de quem viveu momentos difíceis de mudanças históricas, ele tinha a habilidade de tecer comentários sucintos e precisos, que nos levavam a perceber o quanto eram pequenas as nossas aflições. Por mais irônica que pudesse ser a sua abordagem ela vinha acompanhada de muita generosidade, pois acabava com os pequenos grandes problemas da nossa jovem alma com muito humor.
Algum tempo depois, esse senhor havia de tornado uma face macilenta sem memória e sem expressão pelo acometimento da doença de Alzheimer. Nesse encontro posterior, eu que havia perdido meu pai há poucos anos, ainda com uma dor maior do que cabia em mim, passei a me sentir desconsoladamente afortunada. Não consegui prosseguir no meu contato, me esquivando de novos encontros pela imensa tristeza que aquilo me causava. Uma covardia sem limites, mas era a primeira vez que tinha contato com alguém, que conheci bem, sofrendo de Alzheimer. Uma coisa é você conhecer e tratar de alguém doente, outra é você ser testemunha dessa perda tão significativa. Nada pode ser mais difícil de entender do que uma alteração mental e nesse caso, irreversível.
Diante da incidência crescente do Alzheimer as pesquisas não param e hoje já se tem certo o mecanismo pelo qual as células nervosas são lentamente estranguladas em sua comunicação. Depósitos de substâncias amiloides ocorrem entre áreas do sistema nervoso, sequestrando espaços e impedindo a comunicação entre neurônios. O suficiente para sabotar o link entre corpo e alma de forma devastadora.
A deposição dos amiloides já é chamada de diabetes do tipo III, pela proximidade de mecanismos de desencadeamento com o diabetes adulto tipo II, ou também chamado resistência à insulina. Para aqueles que têm familiares com a doença há uma ameaça pairando no ar da herança genética. E como se pode intervir é a pergunta crucial?
Felizmente sabe-se que a herança genética para doenças tem expressão muito fraca, pois o gene desencadeador de uma doença pode permanecer adormecido pela vida, sem necessariamente desencadear a doença. E que outras pessoas, mesmo sem a genética presente, podem vir a ter alterações, tudo isso na dependência do estímulo ambiental. Qual o estímulo mais intenso que sofremos ao longo da vida? O ar que respiramos e aquilo que ingerimos para permanecermos vivos, alimentos e bebidas.
A importância da alimentação na prevenção e controle de doenças tem sido relegada a segundo plano pela ciência e por leigos pelo glamour oferecido pelas descobertas e inovações. A questão é que apesar do glamour, todo medicamento tem seus pontos frágeis e nem sempre é uma solução completa. Isto sem falar de custo individual e social.
A urgência de se controlar a alimentação não passa pela restrição, nem abdicação de prazeres da mesa. Ao contrário, livra as pessoas de dietas restritivas de porções. Permite mais variedade de sabores do que se pode imaginar.
A única regra para isso é comer comida de verdade. Fugir do equívoco da praticidade oferecida pelos pratos ultraprocessados e recorrer à velha e boa cozinha de ingredientes vivos, produtos feitos a partir da matéria prima fornecida pela natureza. Estes sim podem ser combinados de todas as formas e em quaisquer variedades. Açúcares, farinhas refinadas e gorduras trans têm que ser banidos de qualquer forma de alimento. Porém nada impede o consumo de farinha de trigo que não venha carregada de condicionadores, mas isto é tema para outra conversa.
Os vegetais devem ser a base de qualquer dieta saudável e as carnes algo para se experimentar apenas algumas poucas vezes por semana. As folhas verdes e frutas vermelhas devem ser uma constante na alimentação de quem se preocupa em ser saudável e aqui não poderia ser diferente.
O bom dessas orientações é que elas são comuns para Alzheimer e todas as outras doenças crônicas cuja epidemia assola o mundo de forma insidiosa. Açafrão deveria ser prescrito como remédio, mas aos incautos que adoram frequentar as lojas de produtos saudáveis, os suplementos não têm o mesmo efeito do que a raiz fresca. Ao contrário, podem até mesmo serem prejudiciais, então vá à feira e deixe o frasco de comprimidos na prateleira. Reclamando do gosto? Ora, você já não é mais criança e na nossa infância se dizia assim: não é comida para gostar, é remédio! Coloque na boca e engula. Pronto! Sem mais rodeios, mães resolviam problemas como este… Para compensar este eventual desgosto, sirva-se sem cerimônia de outras formas já comprovadas de melhorar a performance e proteção neuronal, damascos e pistaches. Um punhado de cada para tirar o gosto do açafrão. Sem açúcar, por favor!
Com isso em mente, afaste-se de carnes fritas e torradas, sejam elas quais forem. A forma de preparo que consiste em queimar a carne transforma a proteína em substância carcinogênica, e aí tanto faz ser carne gorda ou magra, mesmo que seja peixe ou qualquer outro animal. Chamuscou não serve, mesmo que se descasque a camada de gordura, retire a pele ou outra coisa. Os carcinogênicos se impregnam na textura da carne e pelo nome você já deduziu que além de acabar com o cérebro ainda leva ao aparecimento dos mais diversos tipos de câncer.
Pode ser que você diga que isto é muito restritivo, muita privação e você não quer tanto sofrimento. Eu asseguro que mesmo que você não consiga apreciar a infinidade de outras possibilidades alimentares e sinta falta do seu churrasco, ainda assim você não pode comparar o sofrimento que advém de se perceber sendo consumido pelo esquecimento. Não deixe esse legado para quem você quer bem…