Evitar gorduras na dieta é bom ou ruim?

Há algum tempo ouvimos que gorduras são muito ruins, mas isso não é verdade. Também não é verdade que comê-las aos baldes é saudável. Então, entre os extremos, como saber se você está fazendo uma dieta adequada em termos de gorduras?

Vamos lá entender essa questão. Primeira informação importante: gorduras são necessárias para garantir que tenhamos a absorção correta de algumas vitaminas, servem de protetores para nossa pele e cabelos e também para melhorar a mucosa intestinal, sendo por isso um nutriente indispensável. Ainda, o papel da gordura é fornecer energia e fazer com que tenhamos a sensação de saciedade por mais tempo ao final de uma refeição.

As gorduras participam de um mecanismo muito bem afinado de liberação de hormônios controladores de todo o processo de digestão e absorção da comida. Precisamos de gorduras como matéria-prima para hormônios, protetores de nervos, neurotransmissores e ainda mais para componentes do sistema imunológico. Viver sem comer gorduras é impossível!

Do ponto de vista gastronômico, as gorduras aumentam a liberação de aromas dos demais ingredientes e fazem aquele cheiro bom de comida cativar você. Isso é explorado ao máximo pelas cadeias de fastfood e de produtos prontos congelados que têm grandes quantidades de gorduras adicionadas para que, ao serem aquecidos, você se “iluda” com a sensação de sabores, artificiais, é claro!

Gorduras boas, ou gorduras ruins, é relativo. Se você tem alguém morrendo de fome por desnutrição, qualquer gordura poderá ser boa, até um determinado limite. Existe, sim, o bom ou mau uso que se faz das gorduras.

Então, por que tanta discussão? Porque as gorduras devem ser ingeridas em proporções muito bem definidas. Existem muitos tipos de gorduras e parte delas serve, grosso modo, para aumentar o estímulo de fatores inflamatórios. Este tipo de estímulo pode ser protetor por realçar uma zona de perigo ao conter uma infecção, ou iniciar o processo de cicatrização de um tecido que foi lesado. Toda cicatrização começa por uma inflamação.

Outros tipos de gorduras contrabalançam este efeito, sendo anti-inflamatórias, dizendo para o corpo que já chega, a resposta necessária foi alcançada. E assim, num movimento de controle muito preciso, conseguimos ter um funcionamento ótimo de todos os nossos sistemas.

O problema começou quando passamos a nos achar superpoderosos e separar os ingredientes da fonte de produção. Então tiramos isto e pusemos aquilo para criar um produto que passamos a chamar de comida. Com isso, aquela proporção mágica feita pela natureza se alterou e passamos a adoecer muito com essa perda de equilíbrio.

As gorduras provenientes de animais são responsáveis por um aumento do risco de doenças cardíacas. Nossa alimentação hoje é composta por grandes aportes de proteínas de origem animal. Além da gordura utilizada no preparo, ou aquela da porção visível ao redor de um bife, temos entre as fibras de proteína de qualquer carne, inclusive peixes, ainda mais uma generosa porção de gordura, invisível a olho nu. Tente ver um pedaço de carne em um microscópio e a quantidade de gorduras a mais estará lá.

Animais criados a base de rações e sem se mover têm ainda maiores teores de gorduras em suas carnes, não é à toa que dão ótimos pratos! Carnes macias e ainda com mais aroma dos temperos ao cozinhar…

Então, comer produtos animais em todas as refeições é suicídio!

No entanto, se você comer produtos de origem animal em 3 ou 4 refeições por semana apenas, vai conseguir manter esse equilíbrio necessário.

As gorduras vegetais são em grande parte anti-inflamatórias, indispensáveis para modular as respostas do corpo. Quer um exemplo bem perto de nós nesses dias difíceis? Veja os casos mais graves de COVID, que acontecem por uma resposta muito acentuada do corpo, com uma inflamação enorme, especialmente em brônquios e pulmões. Inflamação essa, que se torna responsável pela gravidade dos casos. Este é um processo aonde o vírus desloca a nossa resposta para muita inflamação e isso passa a ser danoso.

Se, com nossa alimentação “moderna” alteramos essa capacidade de controle da resposta inflamatória, muito temos a perder, aumentando o risco de inflamação de artérias que levam sangue ao coração e ao cérebro, aumentando as chances de um infarto e AVC.

Por isso é imprescindível manter o equilíbrio dos tipos de gordura que se ingere. Se você limitar as gorduras mais inflamatórias vindas de fontes animais, e no restante das refeições der espaço para alimentos vegetais, vai conseguir obter suas gorduras anti-inflamatórias de fontes como grãos, abacates, coco, castanhas, amendoim e azeitonas, e tantas outras. Vai descobrir que consegue melhorar muito sua vida, começando por diminuir seu risco para doenças cardiovasculares mortais.

Mas agora um cuidado. Se você comer toneladas de azeites ou azeitonas, especialmente cobertos de muito sal, não estará fazendo o melhor, estará criando novos problemas. O mesmo para amendoins cheios de outros ingredientes processados. Isso vale também para o óleo vegetal de frituras e aquele utilizado em margarinas ou outros produtos ultraprocessados. Esses óleos, apesar de terem bases vegetais, foram transformados pela indústria ou mesmo pelo simples fato do aquecimento prolongado e se tornam muito nocivos. Tão ruins ou piores que aqueles das carnes.

Regra geral para chegar ao equilíbrio: Coma menos produtos animais, reserve para apenas algumas refeições. Nas demais, coma muitos alimentos vegetais, mas sem serem processados. Faça você os seus molhos para salada, suas pastas para pães e molhos. Descubra novos pratos e sabores. Use e abuse de especiarias. E frituras? Só no dia em que você não achar bom viver bem…